terça-feira, 30 de junho de 2009

Ventinho, o homem que gosta de vírgulas.

*foto de Lopes Castro, o ventinho.

Ninguém, que não ele, seria capaz de entender os flamboyants. Um dia, tive o privilégio de ver o Wilson rodeando um flamboyant sem flores, mas muito muito antigo, como numa dança xamãnica, onde certamente invocava antigos ancestrais para um ritual mágico de transformação. As palavras de amor aquelas árvores seriam como parte de um ritual que só ele entende. E como se todas as árvores o obedecessem, para que fizessem parte do ritual, elas se abraçam e se tocam. E pedem beijos apaixonados... E é claro que como todo ritual, sons saíam do seu pisar macio, quase sem gravidade, espalhando restos de galhos quebrados e secos, que óbviamente seriam para nós observadores, apenas restos. Mas não pra ele. Seriam fragmentos de pura história que ninguém jamais contaria.

Confundem-se as estátuas de mármore italiano, roubadas do parque das águas, com a presença de Wilson. Olha vazio como se ali visse as estátuas que ninguem vê. E ele seria capaz também, dentre outras coisas, de descrever com detalhes as estátuas que ninguem vê, com a precisão da gramática.

E ainda como se fizesse parte do ritual secreto dos Wilsons, ele rodeia novamente os flamboyants e a eles pede permissão pra me contar a história daquele chão. Uma história que só ele, sábio que é, poderia contar.

Perto dali, ainda se ouvem outros passos. Dessa vez, no Palácio dos Ecos... Mas como ainda é mágica, são passos do menino-eólico que transformava a energia em vento, como o contrário dos contrários. E essa energia reverbera ainda, alí, guardada a segredo. Uma caixa de musica que toca passos reverberados na cúpula, ao invez de uma bailarina, um menino-eólico dança os primeiros passos do que seria seu ritual xamãnico, já prevendo um futuro brilhante entre vírgulas.

É bem provável, que quando deixamos aquele parque das águas, a velha fábrica abandonada voltasse a encher garrafinhas que seriam, num futuro muito distante, largadas alí mesmo, junto aos restos de flamboyants, por algum casal apaixonado. E se mesclariam aos gravetos, mas que fariam parte da historia toda contada...

é só pelo momento. só sei que a fábrica não estava abandonada. ela só parou aquele momento. em respeito ao menino-vento, que passou ali pra contar um pedacinho da história de um lugar lindo.

por que o único barulho que se ouviria naquele momento, era o seu coração como a minha canção favorita.

o resto é mar.

Um comentário:

Wilson Gustavo de Castro Lopes Oliveira disse...

resta tão pouco de mim daquilo que eu era, mas você disse que eu jamais sairia daqui, de vez em quando isso me sôa como uma deliciosa profecia.


e você anda muito mansinho, o que houve?